quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Noites de inverno - Vela de natal (5)

Vela de Natal

O clima de festa estava estampado no rosto das pessoas e em todos os outros lugares . Pisca-Pisca era o que mais se via pela rua , enrolados nas árvores , nas janelas , mas portas , nos outdoors e em tudo mais que se possa imaginar . Pequenos “Papais Noies” do tamanho de duendes ficaram pendurados nos batentes das portas e no teto como mini monstrinhos de olhando de todos os cantos . Guirlandas , neve de mentira (como se já não bastasse o leve frio fora de época que fazia) e todo aquele vermelho e verde estava me dando enjoo . Por que tudo no natal tinha que ser tão meloso ?



A sensação de estar servindo de vela para todos na rua agora se agravara de uma forma que eu não esperava , os casais pipocavam em todas as praças e esquinas que eu costumava frequentar eu estava começando a ficar sem lugares para ir . O clima de romance em casa estava fazendo o ar cheirar a rosas , e ficar de vela de Leco e Duda era mais difícil pra mim do que ficar de vela de estranhos .


Eu ficava sentando em um banco de uma praça próxima ao prédio do apartamento , normalmente lendo ou somente olhando as pessoas passarem . Isso estava se tornando (mais um) habito que não me fazia muito bem . Tudo aprecia se tornar insuportável e agressivo para mim , alí não parecia mais ser o meu lugar , mas se alí não era , afinal qual seria ?


O modo como eu e Duda terminamos foi tão brusco e abrupto que as vezes nem eu acredito , foi como Leco disse “foi besteira minha , um alto sacrifício que não era necessário” , “Você deveria se importar menos com os outros e um pouco mais com você mesmo” era o que ele sempre me dizia , eu não sabia porque , mas um nunca acreditei que isso daria certo .


Depois que Duda voltou de Londres algo mudou entre nos dois , não era mais a mesma coisa . Ela se comportava diferente , estava mais fria e menos sorridente . Não nos comportávamos mais como namorados , era mais como uma amizade colorida ou algo do gênero , éramos amigos acima de tudo e isso por um lado não me agradava muito .


Vi Leco se tornar mais arredio com ela , falava menos , a abraçava menos e o ar entre nós três se tornou mais pesado , haviam intenções escondidas alí e isso estava me excluindo .


Aquilo não só estava nos deixando tristes individualmente mas também estava nos separando e isso eu não poderia suportar .


O que eu deveria fazer se tornou muito claro a três meses ...


Era meu aniversário , não era uma data muito fácil pra mim, eu costumava pensar muito (muito mais do que o normal) nos dias que antecediam e os sucessores o dia do meu aniversário , algo que eu não podia explicar . Era como uma reflexão que vinha como uma forma de me melhorar como pessoa (mas mesmo assim ano após ano eu continuava o mesmo inútil inseguro de sempre) e meu relacionamento com o mundo . A situação entre Leco , Duda e eu estava ficando insuportável e suspeitava de que Leco estava planejando se mudar do apartamento , isso eu não poderia suportar .


Eu estava cansado naquela noite e fui para o quarto tentar dormir um pouco , minha cabeça pulsava em pensamento e eu precisava fazer alguma coisa . Alí , no escuro enrolados nos cobertores eu ouvia somente o som da tevê e os sons do atrito de meus pensamentos correndo pelo meu cérebro . Eu estava de mãos atadas e não fazia idéia de como fazer aquela situação se reverter , eu não entendia o que estava acontecendo com Leco , nem com Duda e muito menos comigo , parecíamos três estranhos morando na mesma casa .


A tevê ficou mais baixa e eu pode ouvir sussurros entre a sala e a cozinha , não poderia ser o que eu estava pensando , não , era tudo que eu mais temia . Duda e Leco estavam discutindo , isso era mais do que eu podia suportar . Meu coração bambeava forte , e eu tinha que fazer algo , me levantei da cama e me aproximei da porta , a abri com cuidado e observei e ouvi a discussão por uma fresta da porta , ouvi por um tempo e alí me mantive parado , de choque .


— Se é isso que interfere eu termino com ele — Disse Duda , ela parecia desesperada e aflita .


— Ele é meu amigo , eu não seria tão egoísta a esse ponto — Disse leco , havia raiva em sua voz .


— Não é questão de egoísmo Leco — Disse Duda , ela estava prendendo o choro — Não vou repetir isso , eu estou em sentindo mal com esse triangulo .


— Triangulo que só existe na sua cabeça .


— Seu Cretino — Disse Duda , agora as lágrimas rolavam por seu rosto de uma incrível beleza melancólica — Não acredito que está fazendo isso comigo , ele é capaz de entender .


— Ele já tem que entender coisas de mais — Leco estava frio , e parecia se afastar um pouco no sofá a cada vez que Duda dava um paço .


— Eu sei que você também quer , e o Vico é o cara mais compreensivo que eu já conheci .


— Então porque não fica com ele ? Ele te ama — respondeu Leco levantando a voz .


— Não como antes , não é mais a mesma coisa . Não é como o que eu sinto por você — disse ela , com a voz apertada na garganta e o rosto molhado .


Leco se levantou bruscamente e segurou Duda pelos ombros e a olhou fundo nos olhos — Leco , por favor — suplicou Duda , e tudo ficou muito claro e ao mesmo tempo muito embaralhado na minha mente enquanto os dois se beijavam . Era um beijo quente , e o sentimento era tamanho que eu podia sentir ele no ar .


Fechei a porta e me joguei na cama , enfiando minha cabeça no travesseiro enquanto as lágrimas saíam dos meus olhos sem que eu entendesse porque , e chorei até que o sono me tomou naquela noite , mas alguma coisa ainda tinha que ser feita .


Na manhã seguinte Leco acordou cedo e foi em um seminário so estágio para o quela foi designado e eu fiquei sozinho em casa com Duda , e era o momento certo para o que eu estava planejando . Eu não fazia idéia de como começar , mas eu precisava fazer alguma coisa .


— Duda .


— Sim Vico — Disse ela , seus olhos estavam um pouco inchados , provavelmente por causa do choro .


— Não faço idéia de como dizer isso — eu disse , o nó na minha garganta começava a apertar — mas qual seria o termo ? Termina ?


— Você quer terminar comigo ? — Perguntou ela , parecia triste , mas eu podia sentir o alivio na voz dela .


— Sim — Olhou para ela com o olhar vacilante , não tinha certeza da reação dela . Ela ficou muito séria , se levantou do sofá , pegou o casaco e a bolsa e saiu sem dizer aonde ia . Não pensei em perguntar ou segui-la na hora , mas depois fiquei preocupado com o que ela iria fazer .


Fiquei o resto da tarde sentado no sofá , primeiro tentei ler , mas a história era muito vazia para mim . Liguei a tevê , mas a informações daquela caixa preta com uma tela de vidro resvalavam por minha mente sem deixar vestígios , a desliguei . Me debrucei sobre a varanda do 7º andar , imaginando como seria a queda até lá em baixo , mas não conseguia pensar , a altura me deixava tonto , sempre tive medo de altura , mas naquela hora tive vontade de desafia-la . Retirei esse pensamentos da minha cabeça com mais facilidade do que apareceram .


A maioria dos prédios à minha vista eram acinzentados ou brancos com a tinta gasta tornando-os pretos ou em um tom de cinza muito escuro . Os coloridos eram como pontos de chocolate no meio de muito leite e até que era fácil contar . 1 , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 ... os números vazavam pro minha mente , mas ficavam cravados , parecia uma forma de me concentrar , então continuei contando até que Leco entrou e veio até a varanda . Para ao meu lado eu podia sentir o clima pesado que latejava por suas veias , não seria uma conversa fácil , mas era necessária .


— Foi Infantil o que você fez — Disse ele olhando para baixo , ele parecia ter as mesmas intenções que eu quando olhei para baixo a alguns minutos atrás .


— Errado — disse , tentando não perder a conta de quantos prédios já havia contado — , foi muito maduro da minha parte .


— Foi idiotice , um auto-sacrifício que não era necessário .


— É claro que era necessário Leco , — eu não me importava mais com os números , agora as lágrimas estavam novamente enchendo minhas pálpebras e eu precisava manter o controle de mim mesmo — Era necessário para manter o clima estável aqui dentro , Duda estava quase indo embora .


— É , mais agora o clima vai ficar pesado dentro de você Vico , você não precisa sugar o clima todo e lutar contra ele sozinho — ele estava triste também , mas ele tentava passar o máximo de esperança que tinha para mim e nesse momento eu não gostaria de ser tão sensitivo .


Ser sensitivo nem sempre era bom , e agora eu sabia disso , pensar que eu precisava do resto da esperança de um amigo para continuar vivendo em paz me fazia muito mal . Fazia eu em sentir um peso , um inútil e indesejável por qualquer outro ser humano .


— Leco , para você me ajudar , primeiro eu preciso “ME” ajudar — coloquei ênfase no “me” , era algo que eu realmente precisava fazer sozinho , pelo menos no começo .


Saí naquele dia eram 17:30h e quando voltei , Leco e Duda estavam afoitos e alvoroçados .


— Pra que isso tudo ? — perguntei sem entender .


— Você sabe que horas são Vico ? — Perguntou Duda aquento me abraçava tão forte que machucava minhas costelas . Realmente eu não fazia idéia de que horas eram .


Olhei pela janela da varanda e uma faixa de luz surgia no horizonte enevoado e cheio de prédios , o relógio sobre a parede do sofá marcava 5:53h da manhã . Fiquei perambulando pelo centro da cidade por toda a noite , minha mente estava vazia e em choque , somente o movimento continuo das minhas pernas me mantinha andando , eu era quase um zumbi sentado no banco da praça da Sé e caminhando pela Av. Paulista .


Os abraços tranquilizadores deles me despertaram e eu passei a ficar em um estado de eterna carência e desanimo desde então .


O relacionamento deles deslanchou de uma forma surpreendentemente saudável e natural , como eu e Duda jamais fomos . Era uma puro , mas com muito tesão e isso era até engraçado . Agora eu passava muito menos tempo no apartamento , dando privacidade aos dois , mais um auto-sacrifício que Leco julgava desnecessário , mas eu sabia que se ficasse no apartamento eu iria incomodar .


Comecei a fazer academia , era algo que me fria bem e ainda ocuparia meu tempo livre fora do apartamento . Devia admitir , ficar ouvindo os gemidos de Leco e Duda era insuportável , então tentava evita-lo ao máximo .


Na academia conheci Tilo (Telônios) e Meg (Melissa) , dois loucos muito animados que conseguiam manter meu humor instável e um sorriso simples no meu rosto . Pra mim era suficiente , mas mesmo assim não conseguia deixar de me sentir uma vela nas ficadas eventuais dos dois , era um pouco irritante ver os casais desse jeito , me sentia como se fosse o único solteiro da face da terra e digamos que isso também não ajudava muito .


Era como andar com um castiçal dentro da mochila , e que meus cabelos fossem feitos de palitos de fósforo , eu simplesmente era sempre uma vela e nunca o iluminado . Eu pensava comigo mesmo coisas do tipo : "eu sou tão chato e deprimente que nenhuma garota gostaria de ficar comigo" ou "eu simplesmente não era interessante o suficiente" .


Eu percebia que a cada dia estava mais desanimado , mais cansado , mais magro e mais pálido . A minha volta , tudo começava a perder um pouco da cor e era como se eu estivesse vivendo no piloto automático , fazendo tudo e qualquer cosia por obrigação e até mesmo respirar se tornava uma tarefa difícil .


Eu tinha raiva de me olhar no espelho e ver a pessoa na qual estava me tornando e não fazer nada para mudar aquilo , e o pior , era Natal .


O Natal era uma época que me perturbava muito , pois todos estavam felizes , comemorando com suas famílias enquanto eu normalmente ficava sozinho . Não queria passar o natal com a minha mãe e muito menos com meu pai . E essa era um história que eu não quero explicar . Só tem muito a ver com o modo de como eu saí de casa e de como eu passei a maior parte da minha adolescência , só não foi das melhores e é só isso que tenho a dizer .


Naquele ano Leco ia para casa dos pais , no outro lado da cidade , e Duda passaria lá depois de passar a véspera na casa de sua mãe no interior . Leco havia me convidado para ir à casa da mãe dele , mas recusei , não queria me sentir um peso . Ele já estava levando a namorada , iria levar mais um amigo também ? Seria irritante e pior do que fica em casa sozinho , então eu recusei .


Duda saiu na tarde do dia 23 de Dezembro , seus pais não moravam muito longe da capital e seria fácil voltar para o almoço do dia 25 na casa de Leco . Eu fui ao mercado , e comprei uma lasanha pronta , uma pizza pronta e minichickens , coisas simples que eu pudesse fazer somente colocando no microondas ou no forno .


Leco saiu dia 25 , de manhã levando uma bolsa de presentes para seus sobrinhos , irmão , pais e etc . Eu fiquei , assistindo so especiais de natal da tevê , eram todos muito chatos e realmente mal feitos , era o tipo de coisa que ficava passando enquanto as famílias conversavam alegremente sentados no sofá e as crianças brincavam com os brinquedos que haviam ganhado na noite anterior .


Sentei no sofá , com um prato de minichickens sobre meu peito , e fiquei assistindo àqueles programas deprimentes . As lágrimas brotaram de meus olhos sem motivo aparente , simplesmente meu peito estava aperado de mais para suportar aquilo tudo , eu precisava liberar aquilo .


Um nó se formou na minha garganta eu levantei e andei até a varanda , para tomar um pouco de ar , me surpreendi ao ver o escuro tom de azul do céu , eu não percebi que havia anoitecido , e mal percebi que já eram 11:30 da noite , daqui a meia hora seria dia 26 e toda aquela histeria de vermelho e verde seria retirada das ruas para dar lugar ao branco do ano novo , mas isso não ajudou . Parecia que meus pulmões não tinham vontade de trabalhar e o ar ficava cada vez mais pesado eu me peito , aquilo não era normal . me sentei no sofá e sala começou a girar a minha volta e eu me debrucei sobre o sofá .


De repente o som da tevê ficou baixo e parecia que meu corpo vibrava de frio . A única cosia que eu ouvia era meu batimento cardíaco (ou pelo menos o que eu imaginava que fosse) , ele batia fraco e devagar , como se não tivesse mais vontade de bater , como se a única coisa que o mantinha batendo era ... na verdade nada o mantinha batendo , então ele foi desacelerando . As batidas eram baixas e roucas , e o som soava como as ultimas batidas do meu relógio e tudo começou a se tornar mais escuro e fora de foco . Eu não sentia dor , e agora o frio começava a desaparecer , talvez morrer não fosse tão ruim , talvez morrer fosse algo melhor do que continuar vivendo daquele jeito . A porta foi aberta com força , e Leco se precipitou com violência na sala , ele gritava desesperado , mas eu não ouvia seus apelos . Eu ouvi um leve sussurro dele em meus ouvidos "Vico ! Acorda Vico ! Viccooooo!" , haviam lágrimas em seus olhos , mas eu não entendia porque , eu estava me sentindo bem agora , estava me sentindo livre, e meus olhos se fecharam .


Acordei , não tinha muito certeza de quanto tempo depois , em um quarto muito branco e claro . Leco estava sentado em um sofá , com o rosto entre as mãos e murmurando algo que parecia uma oração . Tentei murmurar algo , mas minha garganta estava muito seca e não saiu mais do que um gemido , havia algo preso em meu pulso e tentei levanta-lo para ver , mas minha visão ainda estava embaçada de mais . Leco levantou com surpresa e veio até a minha cama (ou aonde fosse que eu estivesse deitado) .


— Como se sente ? — Perguntou ele , agora minha visão estava mais clara e eu podia ver seus olhos inchados .


— Quando eu voltar a sentir alguma coisa eu te digo — ele riu .


— Nem quando passa por um experiência de quase morte você perde esse seu humor mórbido né Vico — Disse ele com um sorriso de alivio no rosto — E aí , chegou a ver o outro lado ?


— Não , alguém me chamou antes de eu abrir os portões dourados — ele riu novamente , ver o sorriso dele me fazia melhor , realmente , me fazia melhor .


— Duda foi buscar um café — disse ele , ele parecia estar respirando fundo , como e tivesse fica sem respirar direito por muito tempo — você ficou a madrugada toda desacordado .


— Que horas são — perguntei tentando levantar a cabeça .


— Nananão — repreendeu ele empurrando minha cabeça de volta no travesseiro — São 8:30 — respondeu ele a minha pergunta inicial .


— Dia 26 ?


— Aham , dia 26 de dezembro — Respondeu ele para minha alegria .


Agora meu peito estava aliviado , e eu estava aberto para um novo sentimento , agora , esse sentimento é de felicidade .

Nenhum comentário:

Postar um comentário