terça-feira, 3 de novembro de 2009

Noites de inverno - Colapso (1)

Colapso

Saí com pressa daquele lugar inóspito e gostaria de nunca mais ter de volta a entrar nele ... impossível . Meu futuro estava alí , eu precisava ir , mas era somente uma obrigação .



Caminhei pela calçada com pressa , sortido em meus pensamentos , olhei a minha volta , vi os rostos das pessoas que passavam e perguntei "São pessoas ou robôs?" . Não ousavam olhar para os rostos uns dos outros , prendiam-se a olhar somente para baixo , ou para algo que os outros não viam , algo dentro de seus olhos . Olhar nos olhos aqui era quase uma ofensa , do mesmo jeito que um simples esbarrão era tratado com um soco . Era tudo tão frio , não a temperatura (de 9°C) e sim as pessoas , o frio não vinha doa r , vinha delas , aonde fora parar a cumplicidade , a companhia e o amor ? ... se perdera num caminho estreito chamado vida .


Cores era algo que não se via , principalmente nessa época do ano , era tudo tão mórbido , como um eterno inverno estavam todos de preto , roxo , azul escuro , verde escuro , vários tons de cores escuros ... cinza . Não havia branco , amarelo , vermelho , verde vivo (que se perdera até das árvores , as árvores estavam sem cor) . O tom da pele das pessoas também era acinzentado , tudo era acinzentado .


O nó na minha garganta começou a apertar enquanto eu andava por aquela calçada . Parecia estar andando na contra mão , todos vinham e minha direção , mas nenhum deles realmente me via , eu era invisível , todos alí eram invisíveis , para cada um deles , somente havia seus corpos na calçada , estavam todos sozinho em um aglomerado de pessoas , eram somente corpos , sem alma , sem vida .


As lágrimas (também cinzas sobre minha pele cinza) escorriam pelo meu rosto e tudo começou a correr mais rápido do que devia . As pessoas passavam correndo em passos curtos , a imagem estava sendo acelerada , ou eu diminuíra meu ritmo . Tentava gritar , a voz não saia , não conseguia passar do nó em minha garganta . Minha cabeça girava , então abracei com minhas mãos tentando coloca-la no lugar , então meu corpo tremeu com um choque frio descendo pela minha espinha . não me aguentava mais em pé , então deixei que meu corpo caísse sobre a calçada , e minha mochila se encostou na parede ... cinza . Á as lágrima eu poderia agradecer , minha cabeça estava sendo limpa , meus pensamentos estavam sendo limpos , mas meu corpo estava em estado de choque , não se mexia e nem sentia a chuva gelada que começava a cair do céu escuro .


O tempo poderia parar alí , não acreditava que estava fazendo aquilo no meu da rua , com todos olhando . "fodam-se os outros , quero que vão todos para o inferno" foi a frase que se passou pela minha cabeça . Eu realmente precisava daquilo .


Uma voz ecoou em minha mente , era uma voz quente (ou ao menos , me fazia sentir quente , abrigado) , era uma voz que eu podia confiar , eu tinha certeza . A voz me levantou e me tirou de chuva talvez com um guarda - chuva . Leco me apoio e me ajudou a andar por um caminho que eu não via , minha mente estava escura . Não me lembro o quanto precisamos andar , sós eu que quando dei por mim estávamos no apartamento que dividíamos . Ele tirou as duas blusas pesadas que eu estava vestindo , meus jeans e as calças finas de moleton que eu usava por baixo e me atirou na água quente do chuveiro ... Me deixou lá , por não sei quanto tempo .


Recobrei a consciência , levantei-me , me apoiando no boxe do banheiro e olhei pela janela , já estava realmente escuro lá fora , tratei de realmente tomar banho . Tirei a camiseta e a cueca , pequei o vidro de champô e esfreguei minha cabeça , depois passei a esponja com sabonete pelo meu corpo sem perceber , era quase algo programado . A água quente despertava meus sentidos , agora meu corpo estava quente de novo , estava me sentindo de novo , sentindo o toque da minha própria mão esfregando o sabonete liquido no meu ombro , eu estava voltando ao meu normal (se é que de dois anos para cá eu havia sido normal) , ou pelo menos estava voltando a um estado saciável .


Saí do chuveiro com a toalha enrolada na minha cintura e andei para o quarto . Entrei e fechei a porta , sentei-me na cama e olhei o guarda roupa . Vesti minha cueca e abri a segunda porta do guarda roupa , peguei um conjunto de moleton e vesti , coloquei um par de meias e saí do quarto . Realmente devia uma explicação a Leco , sabia que ele não me cobraria essa explicação , mas sabia que ele precisava dela . Andei pelo corredor , a luz e a TV da sala estavam ligadas , mas Leco não estava lá , devia estar na cozinha . Passei pela porta da cozinha (que na verdade era uma cortina de contas) e vi ele em pé ao lado da bancada , duas canecas estavam sobre ela , uma era minha . Sentei-me em um banco e peguei a minha caneca de chocolate quente que só ele sabia fazer .


— Não precisa me explicar agora — disse ele olhando para a caneca , ainda em pé.


— Sei que não preciso — respondi — mas também sei que devo , sei que precisa dessa explicação .


— Não agora — disse Leco .


Era realmente por isso que gostava de Leco , ele me entendia como ninguém , nunca encontraria alguém tão compreensivo como ele . Realmente Leco era meu melhor amigo . Ele deu dois tapinhas em minha costas , levantei e fomos os dois para sala . Havia um cobertor sobre o sofá , nos sentamos , e nos cobrimos com eles , estava passando um filme na TV , mas já estava na metade então não prestei atenção . Fechei os olhos e encostei minha cabeça no ombro de Leco , era reconfortante . Adormeci alí .

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