sábado, 13 de novembro de 2010

Noites de Inverno - Uma Noite Qualquer (7)

Uma Noite Qualquer


Tudo parecia voltar ao normal de novo, e o antigo sorriso plantado no semblante de Leco, que eu já não via há tanto tempo estava de volta. Verônica voltara a falar comigo normalmente, era um alívio desde que terminei com ela. Na época eu sabia que ela havia entendi o motivo, só não sabia se ela havia perdoado minha covardia.

Naqueles dias de tormenta, em que eu me torturava em pensamentos, decidi abdicar do meu amor por Verônica e manter a convivência dentro do apartamento, já que um começava a repelir o outro de forma assustadora, preferia sair do triangulo à ver os catetos se auto destruírem.

Depois de tudo que havia ocorrido, eu já não sabia o que pensar e nem o que sentir. Eu me Sentia alheio a tudo e a todos como se minha mente estivesse pairando em uma realidade paralela enquanto todos viviam suas vidas.

Era estranho como tudo que eu passei a sentir a partir daquilo, era tão irreal pra mim. Como se estivesse num estado de sonho, em que meus sentimentos perdiam os sentidos próprios e flutuavam livres como fumaça em minha mente. Raiva não era mais raiva, felicidade não era mais felicidade, angustia não era mais angustia, e certeza não era mais certeza.

Eu já havia me sentido daquele jeito antes, mas nunca por tanto tempo. Mas não me preocupava com isso sabia que mais cedo ou mais tarde retomaria a noção de realidade de tudo.

O que realmente me intrigava era como as coisas poderiam mudar subitamente sem percebêssemos, um piscar de olhos (Ou uma noite no hospital) poderia transformar tudo, inclusive meu melhor amigo, Leco.
O sentimento estranho e vazio em seu olhar a minha direção, como se eu fosse desfalecer a qualquer instante havia abandonado sua rotina, mas o silencio continuava a reinar. Verônica havia me contado o que se passara no corredor do meu quarto durante as horas em que estive desacordado.

Eu pude ver em seus olhos uma imagem daquele momento, e da preocupação dos olhos de Leco refletidos nos dela. Era de um sofrimento além da minha compreensão, além de qualquer coisa que eu já havia visto, comparando-se somente com o olhar de Verônica, que do mesmo jeito que os dele, mostravam uma angustia que apertou a minha garganta.
Leco se mantinha cada vez mais distante e calado em relação a mim, dirigindo-se somente quando necessário. Pegou um horário extra no escritório e passou a trabalhar por uma hora e meia a mais por dia, além das aulas e todo o resto.

Eu me sentava ao lado de Verônica no sofá da sala, nas horas em que tínhamos a mais que ele para descansar e me perguntava o porquê de tudo aquilo que ele fazia, e que Verônica sabia, mas por algum motivo não queria me contar, não que eu houvesse perguntado, mas eu podia ler em seus movimentos que era algo que eu deveria perguntar para o próprio (não me pergunte como).

Leco parecia cada vez mais exausto e esgotado. As olheiras tomavam o lugar de seu sorriso animado e uma respiração desregular vinha de seus pulmões. Eu sabia que precisava conversar com ele, já havia falado com Verônica na mão em que acordei de meu pesadelo, mas aquilo não fora o suficiente. Eu só precisava de um pouco de tempo, para pensar em tudo que deveria ser dito, sem dor ou gagueira, somente dito alto e claro.
Eu não pensava em lugar melhor para colocar a cabeça em ordem do que a Academia. Fazia algum tempo que eu não ia e sentia falta de Tilo e Meg. Tilo era brincalhão, sempre com os olhos pretos vidrados querendo ir a um lugar diferente da cidade a cada noite. Seus cabelos cor de areia nunca estavam disciplinados e cada fio insistia em rumar para uma direção diferente. Meg era uma maluca completa ligada na tomada de 220 V, que agitava a cabeça ouvindo musica nos fones agitando seus lisos cabelos pretos cortados em Chanel na altura do pescoço.

Cheguei à academia e logo avistei Meg correndo na esteira do canto longe das grandes janelas de vidro. Vedada com os fones dos quais eu podia ouvir o ruído ela corria de olhos fechados murmurando alguma coisa, estranhei e chamei seu nome, ela não respondeu, talvez pelo barulho dos fones. Cutuquei seu ombro e ela me olhos surpresa, perdeu o equilíbrio e quase caia da esteira quando eu a segurei. Só quando a levantei percebi as lágrimas que escorriam em gotas grossas por seu rosto. Ela me olhou com um olhar suplicante de ajuda e me abraçou forte, retribuí. Senti sua respiração forte e o coração batendo nervosamente em seu peito. O que ela tinha eu descobriria logo, mas agora ela precisava de um momento pra desabafar, e eu dei esse tempo a ela.

Eu queria saber o que acontecia, mas esperei o que tempo que foi preciso até ela se acalmar. Afaguei seus cabelos enquanto o choro começava a cessar. Ela levantou a cabeça e me olhou como poucas vezes alguém já havia olhado, senti seus olhos percorrerem toda a minha mente e eu sustentei o olhar, olhando fundos nos olhos dela também. Havia angustia e pesar neles, algo que eu nunca havia visto no rosto de Meg.

Um momento de silêncio se estendeu enquanto olhávamos um no olho do outro, e eu não pude resistir ao impulso que também parecia atraí-la. Eu a beijei, sem entender porque, somente a beijei, e ela me correspondeu ao toque de lábios. Não tenho certeza de quanto tempo ficamos ali, enquanto eu prendia a mão direita em seus cabelos curtos e passava a mão esquerda em torno de sua cintura, puxando seu corpo de encontro ao meu. Ela acariciava meu ombro levemente com a mão esquerda enquanto a direita pousava sobre minha bochecha marcada pela barba por fazer.

Separamos nossos rostos, e eu pude ver sua expressão. Já não era tão deprimida e angustiada, parecia mais aliviada, mais feliz. Peguei sua mãe e a puxei comigo, sem dizer uma palavra, não exigi explicações ou razões para ela estar chorando, pensei que não quisesse lembrar aquilo, muito pelo contrário, achei que quisesse esquecer, e eu sabia exatamente onde.

Saímos da academia, ainda em silêncio, para a noite de sábado, o céu ainda anormalmente claro por causa do horário de verão se estendia até o horizonte de concreto. Caminhamos pela a avenida calmamente, entre sorrisos bobos e olhares sem graça, parecíamos dois adolescentes.

Chegamos ao shopping alguns minutos depois, e eu a levei direto pra praça de alimentação. Comemos dois grandes pratos de Yakisoba e ela riu quando viu os pratos vazios sobre a mesa.

– De que adianta ir pra academia comendo desse jeito – riu ela enquanto íamos em direção ao cinema.

Pegamos uma sessão de um filme que ela queria assistir. Eu sabia que ela precisava daquilo, de uma distração, mesmo sem saber o que acontecia. Eu olhei para ela, com seu rosto sendo iluminado somente pela luz que vinha da tela a nossa frente, e toda a sensação de estranheza e confusão dentro de mim se esvaiu como fumaça ao vento, e eu sorri comigo mesmo.

Foi uma ótima noite, uma noite em que eu me senti um cara normal, como eu não me sentia a muito tempo. Toda e qualquer frustração havia fugido de mim correndo quando eu beijei Meg, e acho que o mesmo havia acontecido com as dela.

Depois de o filme acabar, ficamos sentados em um banco do lado de fora do shopping, curtindo a noite de verão e a nos mesmos. Falamos pouco, nos beijamos muito, e sorriamos mais ainda, era sem sentido e totalmente descompromissado, por isso era tão leve e agradável.

Tudo se passava tão naturalmente que não percebemos o tempo passar. Era quase meia noite quando resolvemos ir embora. Meg morava naquela avenida, seguindo em frente a alguma quadras dalí, já eu morava a 5 estações de trem.

– Te levo em casa – Disse eu passando o braço em torno de sua cintura e levantado-a no ar.

– Não precisa – Disse ela depois de me dar um selinho.

– Eu insisto – Devolvi o selinho.

– Que bonitinho, cavalheirismo do século XXI, – Caçoou ela – Mas eu moro aqui perto, já você pelo contrario... – Disse ela me mandado um olhar irônico ainda em meus braços.

– Por isso mesmo, sua casa é perto, posso levá-la sem me preocupar com a hora, não vai demorar.

– Não quero que se incomode, já fiz esse caminho tantas vezes sozinha – Rebateu ela.

– Em outros horários.

– Isso mesmo, era mais tarde – Riu ela.

– Anda, te levo lá.

– Não. Não. Sério, não precisa.

– Eu insisto.

– Não, sério, vou ficar brava com você. Vai pra casa que eu posso perfeitamente ir sozinha.

– Tem certeza?

– Claro que eu tenho.

– Então certo. – Eu a beijei enquanto a levantava no ar novamente, me despedi e fui pra estação, parando na entrada para vela seguir caminhando avenida abaixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário